sábado, 29 de setembro de 2018

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domingo, 1 de maio de 2016

Desde acá

Faltan sus ojos
Su boca suave
Sentir su carne
Y contemplar sus misterios
Publique-se
Cumpra-se

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Trânsito
Alarme
Parede vazia
Olhos fechados
E mais nada

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

História de uma pessoa só

Era uma vez uma pessoa que vivia imersa em seus pensamentos.
Vivia, sobretudo, tentando disfarçar que não era daquele mundo. Desconfiava que todos também não fossem, mas não tinha o dom de ler a mente dos outros.
Duvidava que os outros existissem. Como poderiam existir, se o mundo corria em sua mente?
O mundo apenas funcionava em sua CPU. Finda a CPU, o mundo deixaria de existir.
Voltaria ao pó.
A pessoa não se lembrava como surgira o pó, tinha péssima memória.
Não sabia se guardava apenas as boas ou as más memórias, não se lembrava.
A memória não era seu único problema.
Mas a falha memória fazia com que as vezes esquecesse que os outros não eram iguais a ele. Rapidamente percebia o engano.
A pessoa não tinha apego por muitas coisas. Sua coleção de coisas importantes era extremamente pequena.
O que estaria ele suposto a fazer nesse mundo?
Já caminhara por quase três décadas e nada. Apenas esperava pelo momento de voltar à sua terra natal.
As vezes pensava em algum jeito de abreviar esse caminho, mas era covarde demais para fazê-lo.
A covardia não era uma qualidade muito aceita no lugar onde vivia. Não entendia o porquê, sendo que a covardia era uma qualidade neutra para ele e os demais.
A não-covardia era muito premiada. Muitas vezes o prêmio aumentava de acordo com o nível de interferência na vida das outras pessoas, mesmo quando era cruel.
Um de seus maiores problemas era a comunicação. Tinha enormes dificuldades em conversar com as outras pessoas, mesmo as conhecidas. As palavras fugiam-lhe da mente, seu tom de voz ficava cada vez mais baixo até ficar inaudível e as pessoas pensarem que ele parara de falar. Não admitiam seu "silêncio".
As outras pessoas só conseguiam conversar através de sons e ruídos, e se irritavam com a pessoa.
As pessoas não aceitavam qualquer ausência dos sentidos. Não aceitavam diferenças.
Tudo deveria ter o mesmo formato.
Tudo deveria ter o mesmo formato.
Tudo. Tudo.
Todos estavam trabalhando pelo seu próprio bem comum particular geral.
Um dos principais ideais é que todos deveriam fingir, o tempo todo.
As vezes a pessoa tentava fugir, usava artifícios, mas no fim acabava acordando todos os dias no mesmo lugar.
Ao acordar, era obrigado a cumprir seu papel de gastar algumas horas fazendo algo, mesmo que não fosse útil para nada ou ninguém. Bastava girar uma manivela em círculos até seu início. Todos os dias.
Diziam que se girasse muitas vezes, algo bom aconteceria no futuro.
Todos aceitavam algo não-palpável a fim de aceitar o que era palpável.
O humor das outras pessoas era bastante variável, o que fazia com que seu humor também variasse as vezes.
Ele já estava cansado. Morria de saudades de sua terra natal, mesmo não se lembrando de nada dela.
Ele não entendia nada. Apenas queria entender.
Um dia deitou para dormir, e enfim entendeu.
O que me resta é fingir
Fingir que acordo
Fingir que trabalho
Fingir que amo
Fingir que serei feliz

Tenho em mim sonhos
Nunca serei nada
Não nasci pra ser nada
Não tive escolha